segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A ESPERA

ESPERA.Tumulto de angústia suscitado pela espera do ser amado, ao sabor dos mais ínfimos atrasos(encontros, telefonemas, cartas, retornos).


       A espera é um encantamento: recebi a ordem de não me mexer.A espera de um telefonema se tece assim de pequeníssimas interdições, ao infinito, até o  inconfessável: não me permito sair do cômodo, ir ao banheiro, nem mesmo telefonar(para não ocupar o aparelho); sofro quando me telefonam(pela mesma razão); "Estarei enamorado? -Claro que sim, já que espero". O outro, este nunca espera.Às vezes, quero bancar aquele que não espera; tento me ocupar com outra coisa, chegar atrasado, mas nesse jogo, sempre perco; faça o que fizer, acabo sempre ocioso, pontual, adianado mesmo.A identidade fatal do amante nada mais é que: sou aquele que espera.
(Na trasferência, espera-se sempre-na sala do médico, do professor, do analista.Mais do que isso:se espero num guichê de banco.Podemos dizer que, em toda parte onde há espera, há transferência: dependo de uma presença que se divide e que demora a se dar-como se se tratasse de arrefecer meu desejo, de alquebrar minha necessidade.Fazer esperar: prerrogativa constante de todo poder, "passatempo milenar da humanidade".


Belo texto de Roland Barthes sobre  espera. Pode ser encontrado em Fragmentos de um discurso  amoroso. Bjos!!!

AUSÊNCIA

       Hoje acordei com tanta vontade de gritar de saudade, querendo colo, carinho, aconchego. Afago de amigo, aliás tenho sentido muita falta desses amores que nos faze suportar as dores do mundo e lembrei desse poema tão lindo: 



A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

domingo, 26 de dezembro de 2010

CHEIRO DE ALFAZEMA


Último domingo do ano, dia para refletir, repensar e rememorar. Ana dormia tranquilamente após almoçar com seus pais na casa que passara toda a infância. O sentimento de nostalgia invadia seu coração, época natalina, tempo propício para celebrar, mas também para  renovar os laços de amor e amizade. Fazia meses que ela e Ricardo não conversavam, embora ela nutrisse um carinho infindável por ele, que representava sensibilidade e mistério. Enfim, ela jamais imaginara que, motivado pelo espírito natalino, o amigo a procuraria naquele dia.
Embalada pelo clima ameno ela descansava após uma maratona intensa de troca de afetos, presentes e votos de felicidade. O telefone tocara algumas vezes e ela, cansada, sonolenta, imaginara que alguém havia combinado com o destino de atrapalhar seu sono e envolvida pelo torpor resolveu não atender, pois o número já estava registrado e tão logo acordasse de seus son(h) o retornaria a ligação.
Ao acordar, descobriu que o autor daquele telefonema, a princípio inoportuno, era Ricardo seu companheiro querido dos tempos de escola. O número registrado carregava consigo todas as lembranças de outrora, os implícitos, os silêncios, as trocas de olhares, as conversas de corredor e, sobretudo, trazia à mente o frescor da alfazema.
Avidamente Ana retornou a ligação e imaginando que o amigo atenderia prontamente, decepcionou-se. Pensou que fosse engano, que talvez ele quisesse telefonar para outra que também se chamava Ana, afinal de contas era um nome tão comum. Voltou aos afazeres diários que a maternidade exigia e horas depois, ao perceber que o amigo retornara a ligação, finalmente venceu o medo e telefonou para ele. Nesse momento foi envolvida pelo calor da alfazema, conversaram durante alguns minutos e era como se nunca houvessem rompido a relação de amizade.

Ambos conversaram sobre amenidades, sobre a convivência de outrora e felicitaram-se pelo ano que estava prestes a iniciar, falaram sobre a importância de se camuflar para sobreviver em sociedade e Ana descobriu que conhecia quase nada do amigo, uma vez que ele se protegera durante os anos em que estiveram juntos.  
Ricardo, prudentemente, desligara o telefone desejando que a amiga fosse muito feliz e realizasse todos os desejos que guardasse no íntimo, mal sabia que o maior anseio de Ana era que ele se mostrasse por inteiro e permitisse que o cheiro de alfazema afastasse do peito tudo aquilo que ficou por vir.

“Não cantarei o mar: que ele se vingue de meu silêncio nesta concha”.




Nome científico: Lavandula angustifolia – (outras espécies: Lavandula spica, Lavandula vera, Lavandula officinalis, Lavandula angustifolia.)
Nomes populares: Alfazema, Lavanda, Lavandula, Nardo.
A lavanda é sedativa e equilibradora, digestiva, anti-reumática e antiinflamatória, anti-séptica, cicatrizante, relaxante, redutora da fadiga, sedativa, balsâmica.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A propósito de botas

   Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da Terra, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro. (...) Quatro ou cinco dias depois, saboreava esse rápido, inefável e incoercível momento de gozo, que sucede a uma dor pungente, a uma preocupação, a um incômodo... Daqui inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas”.

    Ao ouvir "Pés Cansados" hoje enquanto dirigia lembrei da minha caminhada em direção a você, pensei nos  caminhos paralelos que permeiam nossa estrada e nos rumos diferentes que seguimos , embora eu só tenha aprendido a te seguir .Caminhei insistentemente buscando novos rumos,mas me perdi, descobri que essas estradas eram miragens e que no final de tudo só você era real, por isso estou aqui!!!!

"Depois te tanto caminhar
depois de quase desistir
os mesmos pés cansados voltam para você

Meus pés cansados de lutar
Meus pés cansados de fugir
Os mesmos pés cansados voltam para você".



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cartas de amor

       Todas as cartas de amor são
       Ridículas.
       Não seriam cartas de amor se não fossem
       Ridículas.
       Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
       Como as outras,
       Ridículas.
       As cartas de amor, se há amor, 
       Têm de ser
       Ridículas.
       Mas, afinal,
       Só as criaturas que nunca escreveram 
       Cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.
       Quem me dera no tempo em que escrevia 
       Sem dar por isso
       Cartas de amor
       Ridículas.
       A verdade é que hoje 
       As minhas memórias 
       Dessas cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.
       (Todas as palavras esdrúxulas,
       Como os sentimentos esdrúxulos,
       São naturalmente
       Ridículas.)


O filme retrata de uma maneira singela a busca pelo amor verdadeiro, aquele que não sucumbe diante das dificuldades e que resiste ao tempo. Num cenário belíssimo, a cidade de Verona, na Itália, o diretor faz com que o espectador revisite a mais bela história de amor todos os tempos. Amanda Seyfried interpreta a jornalista(checadora de fatos) Sophie que redescobrirá que "o amor não tem pressa, ele pode esperar".

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Vanilla Sky

"Cada minuto que passa é uma chance de mudar tudo". Nossa vida é feita de escolhas: os amigos que faremos, a carreira que seguiremos , os valores que perseguiremos e cada oportunidade é única, não há a ínfima possibilidade de reaver escolhas realizadas, uma vez que toda escolha implica uma renúncia e não há nenhum ganho sem que haja perda.

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada"(Clarice Lispector)

Esse filme fala sobre verdade inventada.O personagem interpretado por Tom Cruise está dividido entreo desejo arrebatador por Sophie, a bela jovem que povoa seu imaginário e oferece uma vida de sonhos "lúcidos" e uma vida comum marcada por incertezas  e limitações. Vale a pena conferir!!!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

De Príncipes e Sapos

   

  Era uma vez uma garotinha que acreditava em contos de fadas.Durante anos , ela sonhou e esperou pelo príncipe que viria num cavalo branco e a levaria para viverem o seu "felizes para sempre". Deixou o cabelo crescer pois se a bruxa a prendesse numa  torre, ela jogaria as madeixas para que seu salvador pudesse ir resgatá-la lá no alto. Conservou as unhas dos pés sempre bem pintadas para que se porventura perdesse um de seus sapatinhos e  o nobre cavalheiro viesse procurá-la ficaria encantado com pezinhos tão bem cuidados.Começou todas as maçãs que lhe eram ofertadas coma esperança de que uma delas fosse envenenada e ela caísse em sono profundo e postetriormente fosse despertada com um beijo de amor.
Num belo dia, eis que o seu amado chegou, sorrateiramente. Não montava o cavalo branco, nem era tão gentil ou educado.Não pediu licença para beijá-la, nem a convidou amavelmente para bailar.Disse somente que já havia estado em outros bailes, testado vários sapatinhos, beijado outras moças e vivido tentativas de um "felizes para sempre"  que fracassaram.Agora era um príncipe exigente e experiente, não garantia um final feliz, nem tão pouco beijo tórridos de amor, daqueles em que a princesa "levanta o pezinho do chão", só podia oferecer momentos felizes em meio a crises rotineiras.E foi listando PAUSADAMENTE as mudanças que o tempo e as experiências de outrora lhe impuseram. A jovem escutava cada afirmação na esperança de que se tratasse de uma anedota ou ainda de que o amado dissesse que a partir de agora mudaria, uma vez que ela era o grande amor que ele tanto esperara e não tivera, mas o rapaz não disse nada e perguntou apenas se a jovem entendera corretamente cada uma das proposições, e ela, sem pensar duas vezes beijou-o avidamente e quando abriu os olhos para ver se os dele também estavam cerrados comos os seus, descobriu tratar-se de um sapo que anos atrás ela desprezara e lhe negara um único beijo!!!!