quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sábias palavras de Drummond



Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter 
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que 
gostaríamos de ter compartilhado, 
e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um 
amigo, para nadar, para namorar. 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez 
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do 
sofrimento,perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional...


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

 Hoje num momento de reorganização do pensamento lembrei de um livro que li há alguns anos, obra indicada para homens e mulheres que pretendem compreender esse universo fantástico e intrigante que é o feminino. Eu, como uma pré-balzaquiana, me re-apaixonei por ele.Se pudesse rebatizá-lo poderia perfeitamente  intitulá-lo “DAS VANTAGENS DE TER 30 ANOS”.





A MULHER DE TRINTA ANOS


    Ela perde o frescor juvenil, é verdade. Mas também o ar   inseguro de quem ainda não sabe direito o que quer da vida, de si mesma e de um homem. Não sustenta mais aquele ar ingênuo, uma característica sexy da mulher de 20. Só que isso é compensado por outros atributos encantadores que reveste a mulher de 30. 

    Como se conhece melhor, ela é muito mais autêntica, centrada, certeira no trato consigo mesma e com seu homem. Aos 30, a mulher tem uma relação mais saudável com o próprio corpo e orgulho da sua vagina, das suas carnes sinuosas, do seu cheiro cítrico. Não briga mais com nada disso. Na verdade, ela quer brigar o menos possível. Está interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorando o que for feio e baixo - astral. Quer é ser feliz. Se o seu homem não gosta dela do jeito que é, que vá procurar outra. Ela só quer quem a mereça. 


   Aos 30 anos, a mulher sabe se vestir. Domina a arte de valorizar os pontos fortes e disfarçar o que não interessa mostrar. Sabe escolher sapatos e acessórios, tecidos e decotes, maquiagem e corte de cabelo. Gasta mais porque tem mais dinheiro. Mas, sobretudo, gasta melhor. E tem gestos mais delicados e elegantes. 

   Aos 30, ela carrega um olhar muito mais matador quando interessa matar. E finge indiferença com muito mais competência quando interessa repelir. Ela não é mais bobinha. Não que fique menos inconstante. Mulher que é mulher,se pudesse, não vestiria duas vezes a mesma roupa nem acordaria dois dias seguidos com o mesmo humor. Mas, aos 30 ela,já sabe lidar melhor com esse aspecto peculiar da sua condição feminina. E poupa (exceto quando não quer) o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a atingiam e quem mais estivesse por perto, irremediavelmente. 

   Aos 20, a mulher tem espinhas. Aos 30, tem pintas, encantadoras trilhas de pintas, que só sabem mesmo onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos.

    Sim, aos 20 a mulher é escolhida. Aos 30, é ela quem escolhe. E não veste mais calcinhas que não lhe favorecem. Só usa lingeries com altíssimo poder de fogo. Também aprende a se perfumar na dose certa, com a fragrância exata.

     A mulher de 30, mais do que aos 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome. Aos 30, ela é mais natural, sábia e serena. Menos ansiosa, menos estabanada. Até seus dentes parecem mais claros; seus lábios, mais reluzentes; sua saliva, mais potável. E o brilho da pele não é a oleosidade dos 20 anos, mas pura luminosidade.

    Aos 20 ela rói as unhas. Aos 30, constrói para si mãos plásticas e perfeitas. Ainda desenvolve um toque ao mesmo tempo firme e suave. Ocorre algo parecido com os pés, que atingem uma exatidão estética insuperável. Acontece alguma coisa também com os cílios, o desenho das sobrancelhas, o jeito de olhar. Fica tudo mais glamouroso, mais sexualmente arguto.

     Aos 30, quando ousa, no que quer que seja, a mulher costuma acertar em cheio. No jogo com os homens já aprendeu a atuar no contra - ataque. Quando dá o bote é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado. Mostra a sua força na hora certa e de forma sutil.
Não para exibir poder, mas para resolver tudo ao seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Consegue o que pretende sem confrontos inúteis. Sabiamente, goza das prerrogativas da condição feminina sem engolir sapos supostamente decorrentes do fato de ser mulher.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

AMIZADE COLORIDA

  
  Onde começa o amor e termina a amizade? Simplesmente não existe demarcação.A amizade segue intimamente arraigada , é tijolo na construção diária de um relacionamento.Ela ajuda a sedimentar o respeito à liberdade do outro, o carinho mútuo.
       Quem nunca amou um amigo?SIMPLESMENTE NÃO EXISTE QUEM FUJA A ESSA REGRA.Por que necessariamente temos que nos apaixonar por quem não nos conhece? Por quem nunca nos viu chorar ou ainda por quem não sabe como ficamos lindas com uma camisa larga  numa tarde de verão? Ocasião em que estamos sem maquiagem.
       Há pessoas que nunca se permitiram beijar um amigo e PERDERAM UMA GRANDE OPORTUNIDADE DE SEREM FELIZES.Há mulheres que gastam horas preciosas em academias de ginástica, shoppings, festas à procura de um amor e muitas vezes ele está ali ao lado disposto a nos acalmar, alegrar ou simplesmente nos fazer companhia para chorar.MAS , E SE NÃO DER CERTO, COMO FICA A AMIZADE? Não poderá continuar como era antes simplesmente porque esse amigo está mais íntimo ainda e conhece quando estamos fazendo charme apenas para ganhar um beijo.
        Por que insistirmos em rotular as relações? Somos APENAS AMIGOS, agora somos NAMORADOS, somos EX-QUASE-NAMORADOS.tudo seria tão mais simples se disséssemos : agora escolhemos ser felizes , não importa se como AMIGOS, NAMORADOS, AMIGO-AMADOS...
      Num certo dia, uma amiga mandou a seguinte mensagem ao marido: "VOCÊ É MUITO ESPECIAL, É O MEU MELHOR AMIGO DESDE SEMPRE".Isso quase foi motivo de separação, muitas queixas marcaram a relação dos dois durantes LONGOS dias.
     Amigo é aquele anjo da guarda terreno nas horas difíceis, a pessoa certa nas horas mais inconvenientes.Por que ele não pode ser o meu amado? Talvez porque já estabelecemos que as relações amorosas precisam de doses diárias de desencontro e sofrimento.Ou ainda por que estamos preocupados com o e SE NÃO DER CERTO.
   Bom, então a melhor opção nesse caso é não tentar.Porque assim você deixa de ser feliz por alguns momentos ou quem sabe pela  vida inteira, pois a ÚNICA forma de não se decepcionar é não arriscar.Em contrapartida, se você tentar e no final descobrirem que era só mesmo amizade, ficarão ainda mais amorosos um  com o outro porque partilharam momentos de profunda intimidade.Ou nas palavras de Quintana:

"A AMIZADE É UM AMOR QUE NUNCA MORRE".

Socorro Alencar

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Doce novembro

      



     Sou fascinada por comédias românticas, sempre fui apaixonada por elas.Durante minha adolescência me deletei com filmes que evidenciavam a busca da cara metade.Cresci, e agora continuo apaixonada por elas, uma vez que é possível me transportar para além delas.
      Quem nunca ficou no sábado à noite ou numa véspera de feriado esperando o amor chegar?Inúmeras noites me enfentei e claro, me preparei para a chegada deste ser tão aguardado, almejado e sonhado.Nas vezes em que ele não veio, fui buscá-lo e inúmeras outras me deparei inventando versões dele para mim.
      Como é bom amar.IImpossível não concordar com meu querido Drummond."Que pode uma criatura senão entre criaturas amar"? Entre algumas certezas me glorifico com  a de que eu fui feita para o amor .Sou complicada, doce, frágil, leoa e delicada. Invetei e reiventei o amor em todas as cores, variadas formas e encantos.
    Não sou dada a amores velados, eu gosto mesmo é de toque, de abraço e de beijo,que são  maneiras de GRITAR eu te amo .Me sinto terrivelmente magoada quando eu espero aquele carinho, abraço e sorriso acolhedor  e recebo um simples OI.
       Sou complicada, o que evidencia minha condição feminina,.Mas não há tempestade que não abrande com um abraço sincero.Então me abrace hoje, amanhã e sempre!!!


Socorro Vianna
       


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

UM POUCO DE MARTHA MEDEIROS




O amor que a vida traz





 


   Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo até modesto.



   O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja pra assistir em casa, no DVD. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um objetivo na vida. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.



   Aí a vida bate à sua porta e entrega um amor que não tem nada a ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, adeus.



   E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você havia solicitado, mas a vida, que é péssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse nonsense, esse amor que você desconfia que não lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela Internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica, não se experimenta em loja – ah, este me serviu direitinho!



   Aquele amor corretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém que despreza amores corretos, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, um prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor que você encomendou não veio, parabéns! Agradeça e aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.


Trecho extraído do livro Feliz por nada, de Martha Medeiros.

UMA DOSE DE (IN)SANIDADE








   Gentil cavalheiro, guarda-me dentro do teu abraço. Conduze-me aos teus caminhos. Beija-me vorazmente, toma-me em teus braços e desorganiza os meus cômodos. Limpa a minha alma de toda a mágoa e de toda falta de amor.

   Na tua paz eu me acalmo. Como explicar essa serenidade que a tua presença me revela? Um simples beijo por acaso me desorientou. Minha vida tem sido um misto de embriaguez em meio a uma lucidez necessária que me afasta da tua presença.

    Dancemos juntos, celebremos esse momento ímpar de completa (des) ordem. Olha para o lado. Percebe que não desejo ser tua amiga, mas senhora dos teus sonhos mais ocultos. Dona dos teus pensamentos mais profundos. Quando eu te buscar, segue-me!Não me deixes sem respostas e não ocultes a tua resposta.

    Permita que eu prove dos teus abraços mais afetuosos, tenho vontade de me aninhar no teu colo e pedir-te proteção: cuida de mim. Faz-me bicho de estimação daqueles que frequentam a tua casa inteira desde o café da manhã ao jantar. Foge de tudo o te afasta da minha presença e foge daquilo que me provoca repugnância. Enche meus dias de regozijo e alegra meu coração. Faz-me bela.

   Provoca em mim o riso, faz com que eu reviva os tempos de outrora, torna-te uma lembrança inesquecível e por fim: abandona-me para que eu não te cause nenhum mal e tu não macules a minha roupa perfeita que demorei tanto a vestir.

Socorro Vianna

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Gotas de reflexão



"Quando for a hora de ir embora sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.Não me envergonharia de pedir o seu amor esmola, mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim".
                                                                                                                     ( Fernanda Young)



"O vento é o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha.Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros".

 (Cecília Meireles)
 
 "O pensamento errou entre mil avenidas , não se deteve em nenhuma;cada dia amadureceu e caiu como um fruto."

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Só é impossível o que eu ainda não busquei alcançar

             Descobri que sou capaz de criar, cair e inúmeras vezes levantar!Perdemos muito tempo nos lamentando sobre as perdas que tivemos. Muitas noites de sono desperdiçadas,risos que ficaram camuflados em virtude de projetos que fracassaram. Cada queda é uma oportunidade única de crescer e escolher um outro caminho a partir de um atalho que ninguém além de você conhece.Ou ainda é hora de vir á tona seu lado desbravador.
             Desculpe-me , mas não consigo mais carregar a tristeza de quem não está satisfeito com o segundo lugar, se o primeiro lugar ainda não veio é sinal de que é preciso suar mais, me doar mais, insistir mais um pouco, ou ainda pode ser que seja o momento de retroceder, desacelerar.Contar até dez, ouvir a respiração, escutar as batidas do coração.
              Como seria maravilhoso que as derrotas despertassem em nós o desejo de superá-las ao invés de nos levar ao fundo do poço. Por que é tão difícil não receber medalaha de ouro em todos os esportes? Talvez porque as derrotas sejam essenciais ao crescimentos e nos incitem a buscar a superação, embora isso ocorra após muito sofrimento.
              Eureka!!!Estou tão feliz porque descobri que posso realizar até mesmo o que considerava impossível, bastou retirar o prefixo e seguir em frente. Parafrasenado Clarice, se não fosse para voar não teria tirado os pés do chão...

sábado, 10 de setembro de 2011

A TRISTEZA PERMITIDA








Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?



Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.



Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.



A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.



Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.



“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.



Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.



Martha Medeiros

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

REINVENÇÃO DE SI MESMO




Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.


Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.


Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.



Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.



Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.



Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.



Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.



Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.



Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

BELÍSSIMO TEXTO DE MARTHA MEDEIROS!!!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O verdadeiro sentido do amor

    Hoje é um dia especial, não consta no calendário, as empresas de marketing não fizerma propagaram em torno dele.Mas é o dia em que eu escolhi para resgatar o amor pela vida e pelos meus amados.Esse textos escrito pelo padre Fábio de Melo transmite o sentido do verdadeiro amor.





SOBRE O AMOR, ROSAS E ESPINHOS...




Amor que é amor dura a vida inteira. Se não durou é porque nunca foi amor.



O amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até às traições. Sem perdão não há amor. Diga-me quem você mais perdoou na vida, e eu então saberei dizer quem você mais amou.



O amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão. Você o percebe no momento em que o outro fez tudo errado, e mesmo assim você olha nos olhos dele e diz: "Mesmo fazendo tudo errado eu não sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto."



O amor nos possibilita enxergar lugares do nosso coração que sozinhos jamais poderíamos enxergar.



O poeta soube traduzir bem quando disse: "Se eu não te amasse tanto assim, talvez perdesse os sonhos dentro de mim e vivesse na escuridão. Se eu não te amasse tanto assim talvez não visse flores por onde eu vi, dentro do meu coração!"



Bonito isso. Enxergar sonhos que antes eu não saberia ver sozinho. Enxergar só porque o outro me emprestou os olhos , socorreu-me em minha cegueira. Eu possuia e não sabia. O outro me apontou, me deu a chave, me entregou a senha.



Coisas que Jesus fazia o tempo todo. Apontava jardins secretos em aparentes desertos.



Na aridez do coração de Madalena, Jesus encontrou orquídeas preciosas. Fez vê-las e chamou a atenção para a necessidade de cultivá-las.



Fico pensando que evangelizar talvez seja isso: descobrir jardins em lugares que consideramos impróprios.



Os jardineiros sabem disso. Amam as flores e por isso cuidam de cada detalhe, porque sabem que não há amor fora da experiência do cuidado. A cada dia, o jardineiro perdoa as suas roseiras. Sabe identificar que a ausência de flores não significa a morte absoluta, mas o repouso do preparo. Quem não souber viver o silêncio da preparação não terá o que florir depois...



Precisamos aprender isso. Olhar para aquele que nos magoou, e descobrir que as roseiras não dão flores fora do tempo, nem tampouco fora do cultivo.



Se não há flores, talvez seja porque ainda não tenha chegado a hora de florir. Cada roseira tem seu estatuto, suas regras...



Se não há flores, talvez seja porque até então ninguém tenha dado a atenção necessária para o cultivo daquela roseira.



A vida requer cuidado. Os amores também. Flores e espinhos são belezas que se dão juntas. Não queira uma só. Elas não sabem viver sozinhas...



Quem quiser levar a rosa para sua vida, terá que saber que com ela vão inúmeros espinhos.



Mas não se preocupe. A beleza da rosa vale o incômodo dos espinhos... ou não.
 
Padre Fábio de Melo.

domingo, 10 de julho de 2011

A (im)pertinência do amor






Continuação...




   Num sábado em que Roberto a deixou sozinha, Ana foi convidada para ir a uma festa com uns amigos, chegando lá encontrou com Rômulo e embalada pela bebida e pela trilha sonora tentou se reaproximar de seu antigo amor, que magoado, optou por esnobá-la.

   A jovem voltou para casa com o gosto amargo da desilusão e com a certeza de que Rômulo fazia parte de um momento especial que havia ficado no passado.Encontrando-se com Roberto ela decidiu que esqueceria nos braços dele as recordações que esse encontro lhe propiciara.

   Ana e Rômulo trilharam caminhos compeltamente opostos, enquanto ela resilveu investir na carreira, ela insistia inultimente em esquecê-la nos braços de muitas outras em farras noturnas.Nesse período,Roberto e Ana solidificavam a relação que haviam construído.

   Após um semestre de ausência, Rômulo decide procurar pela amada , pois não havia conseguido esquecê-la mesmo tendo ficado com muitas mulheres.Agora era a vez de Ana esnobá-lo, menos por vingança, orgulho ou vaidade, mas porque agora estava plenamente realizada com Roberto que fazia com que ela desejasse ser alguém cada vez melhor.O tempo acomodara as dores , as mágoas e o amor do passado.

   As vidas de Ana e Rômulo foram sendo construídas e reconstruídas, ambos assumiram compromissos perante a sociedade e a Igreja e viveram suas perdas cotidianas com seus respectivos companheiros, ela com Roberto, que entrara na sua vida no momento em que o romance com Rômulo não ia muito bem, ele com Rita , mulata faceira , que guardava a mesma alegria que Ana nutria pela vida.Assim, ele encontrou além de abrigo, marcas de sua amada inesquecível.

   29 de dezembro de 2010, dez anos após o último encontro, ocasionalmente se esbarram num saguão de aeroporto, ambos com o vôo de destino marcado para a terra natal, onde seus cônjuges os aguardavam ansiosamente. Final de ano, caos nos aeroportos, vôos cancelados, parece que o destino conspirava para que houvesse um acerto de contas entre eles. Hora de falar as palavras que ficaram por serem ditas e quem sabe encerrar o sentimento que ficara pendente e que ambos imaginavam ter ficado num passado distante.

   Rômulo, receoso, tímido, convidou Ana para tomarem um café enquanto aguardavam novas informações sobre o possível vôo daquela noite. Ela, temerosa, resistiu dizendo que estava fatigada da longa viagem, mas ele reagiu afirmando que era apenas um café e que nada, além disso, poderia ocorrer. Os dois conversaram durante horas com a intimidade que guardavam de um passado distante, mostraram fotos dos filhos, falaram sobre seus trabalhos e trocaram telefones além de um abraço acalorado.

   6 horas depois os dois embarcavam separadamente para resgatar as vidas que os aguardavam tão logo o avião aterrissasse. No íntimo, Rômulo relembrava as explicações que Ana dera sobre o rompimento no passado e tinha cada vez mais a certeza de que poderia ter sido feliz se não fosse a imaturidade e o orgulho que imperavam na época.Ana, por sua vez pensava que se não fosse tão impulsiva e sonhadora poderia ter vivido uma belíssima história de amor com ele.O coração acelerava, o SE assombrava os pensamentos de ambos, que por mais que fossem felizes agora não conseguiam deixar de pensar no passado.

   O piloto anunciara que o pouso da aeronave aconteceria dentro de 15 minutos, os passageiros afivelaram os cintos e preparavam-se para encontrar ou reencontrar seu destino. Naquele momento, Ana e Rômulo afivelavam-se à vida que haviam escolhido quando optaram por tomar decisões, desembarcaram com a certeza de que precisavam seguir a diante, sem olhar para trás, afinal cada escolha implica numa renúncia e ambos haviam renunciado aquele amor que existiu no passado.

   Na bagagem, Ana e Rômulo traziam a lembrança daquele encontro inusitado, como fora a relação deles no passado, juntos com as fotografias da viagem ambos traziam a imagem de um amor que poderia ter sido, mas não foi.

Socorro Alencar

sábado, 9 de julho de 2011

A (im)pertinência do amor

     Bastou uma única fotografia para que Ana revivesse os sentimentos de outrora.Sua alma havia entrado em desespero , os beijos, os olhares apaixonados que havia trocado com Rômulo durante a adolescência confundiam o imaginário dessa mãe que agora se via e , PRINCIPALMENTE, sentia como mulher.Essa fotografia esquecida dentro de um livro,amarelada pelo tempo e que agora insistia e, fixar-se no pensamento de Ana.
     Rômulo não era o estereótipo de beleza a que as mulheres veneravam, era mediano, pele morena, jeito simples de quem fora criado no interior.Mas não restava dúvida de que era um homem capaz de enlouquecer toda e qualquer mulher .
    A adolescência deles foi muito semelhante: idas ao shopping, balada com os amigos.Ela era uma garota romântica, sonhadora daquelas que choravam ouvindo o LP do Menudo.Ele, um cozinheiro excepcional, pois morava distante da mãe a aprendera a cozinhar com a ajudda da irmã com quem dividia um apartamento de 5 cômodos na zona periférica da cidade onde moravam.
   Num fim de semana qualquer, Ana resolveu investir na paixão que começava a brotar no seu íntimo, muito mais porque o garoto estava sendo paquerado por outra do que propriamente por sentir algo de especial por ele.Sem pensar muito, chamou-lhe no quarto e tascou-lhe um beijo avassalador e simplesmente foi embora. O rapaz, desnorteado, no dia seguinte iniciou uma tórrida relação.Os dois vivenciaram tardes prazerosas , dividiram angústias e planejaram acontecimentos futuros.Ela, no auge de seus 17 anos e ele havia cabado de completar 16 anos.Suas vidas seguiram entrecruzadas até o dia em que Ana se fatigou daquela relação que não mais completava sua necessidade de amar tresloucadamente.
   Nessa ocasião, os encontros com Rômulos passam a ser cada vez menos frequentes, antes diários tornam-se semanais e por fim quinzenais.A relação termina sem que haja a necessidade de se trocar qualquer palavra.O silêncio traduzia o intraduzível.Ana evitava qualquer situação em que fosse provável encontrá-lo e ele não sabia mais o que fazer para que a garota voltasse a se interessar por ele.
  Ana conhece Roberto ,um homem educado, gentil e experiente, o oposto de Rômulo.A jovem investiu nesse novo amor que inspirava desafio, assim Rômulo tornava-se uma fotografia esquecida dentro de um livro no passado.

(Continua...)



Socorro Alencar

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Strip-Tease




Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.



Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.

Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.



Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".



Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."



Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".



Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".



Por fim, a última peça caía, deixando-a nua

"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".



E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
 
 
 
Texto belíssimo de Martha Medeiros...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

USE, OUSE E ABUSE




"Coitada, foi usada por aquele cafajeste". Ouvi essa frase na beira da praia, num papo que rolava no guarda-sol ao lado. Pelo visto a coitada em questão financiou algum malandro, ou serviu de degrau para um alpinista social, sei lá, só sei que ela havia sido usada no pior sentido, deu pra perceber pelo tom do comentário. Mas não fiquei com pena da coitada, seja ela quem for.



Não costumo ir atrás desta história de "foi usada". No que se refere a adultos, todo mundo sabe mais ou menos onde está se metendo, ninguém é totalmente inocente. Se nos usam, algum consentimento a gente deu, mesmo sem ter assinado procuração. E se estamos assim tão desfrutáveis para o uso alheio, seguramente é porque estamos nos usando pouco.



Se for este o caso, seguem sugestões para usar a si mesmo: comer, beber, dormir e paquerar, nossas quatro necessidades básicas, sempre com segurança, mas também sem esquecer que estamos aqui para nos divertir. Usar-se nada mais é do que reconhecer a si próprio como uma fonte de prazer.



Dançar sem medo de pagar mico, dizer o que pensa mesmo que isso contrarie as verdades estabelecidas, rir sem inibição – dane-se se aparecer a gengiva. Mas cuide da sua gengiva, cuide dos dentes, não se negligencie. Use seu médico, seu dentista, sua saúde.



Use-se para progredir na vida. Alguma coisa você já deve ter aprendido até aqui. Encoste-se na sua própria experiência e intuição, honre sua história de vida, seu currículo, e se ele não for tão atraente, incremente-o. Use sua voz: marque entrevistas.

Use sua simpatia: convença os outros. Use seus neurônios: pra todo o resto.



E este coração acomodado aí no peito? Use-o, ora bolas. Não fique protegendo-se de frustrações só porque seu grande amor da adolescência não deu certo. Ou porque seu casamento até-que-a-morte-os-separe durou "apenas" 13 anos. Não enviuve de si mesmo, ninguém morreu.



Use-se para conseguir uma passagem para a Patagônia, use-se para fazer amigos, use-se para evoluir. Use seus olhos para ler, chorar, reter cenas vistas e vividas – a memória e a emoção vêm muito do olho. Use os ouvidos para escutar boa música, estímulos e o silêncio mais completo. Use as pernas para pedalar, escalar, levantar da cama, ir aonde quiser. Seus dedos para pedir carona, escrever poemas, apontar distâncias. Sua boca pra sorrir, sua barriga para gerar filhos, seus seios para amamentar, seus braços para trabalhar, sua alma para preencher-se, seu cérebro para não morrer em vida.



Use-se. Se você não fizer, algum engraçadinho o fará. E você virará assunto de beira de praia.



Martha Medeiros

sábado, 11 de junho de 2011

A IMPONTUALIDADE DO AMOR


     Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.
    Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?
      Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.
     O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.
    O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.
    A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.
                                                                                          Martha Medeiros

domingo, 5 de junho de 2011

PERDÃO POR TE AMAR DE REPENTE!!!

     


  Filme baseado no romance  Desculpa se te chamo de amor , de Federico Moccia, relata o envolvimento amoroso entre Nikk e Alex. No decorrer da trama o publicitário Alex vai (re) descobrindo o amor a partir da convivência com Nikk, adolescente vinte anos mais jovem , cheia de sonhos e fantasias próprias da idade.
       O que desperta a atenção do espectador além de tratar-se de uma história de amor que supera preconceitos e obstáculos é a presença constante de citações de poetas como Shakespeare, além de frases de outros pensadores e filósofos.
    O publicitário (re) descobre o amor nos braços dessa adolescente com quem aprende o lado doce de uma paixão. A cena final é belíssima e final é o famoso FORAM FELIZES PARA SEMPRE!!!Boa pedida para aqueles que acreditam que um grande amor é capaz de transmitir várias lições.

Socorro Vianna





               Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor

seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentando

Pela graça indizível

dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura

dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer

que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas

nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras

dos véus da alma...

É um sossego, uma unção,

um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta,

muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite

encontrem sem fatalidade

o olhar estático da aurora.
 
(Vinícius de Moraes)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ainda uma vez amor...




Por que me descobriste no abandono

Com que tortura me arrancaste um beijo

Por que me incendiaste de desejo

Quando eu estava bem, morta de sono



Com que mentira abriste meu segredo

De que romance antigo me roubaste

Com que raio de luz me iluminaste

Quando eu estava bem, morta de medo



Por que não me deixaste adormecida

E me indicaste o mar, com que navio

E me deixaste só, com que saída



Por que desceste ao meu porão sombrio

Com que direito me ensinaste a vida

Quando eu estava bem, morta de frio



(Chico Buarque)
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 29 de maio de 2011

A PATA DA GAZELA

 
  Romance urbano de Alencar, narra de uma maneira simples a história do (des)encontro amoroso entre Amélia e seus dois pretendentes: Leopoldo e Horácio.O primeiro, um iniciante no mundo das paixões, fica encantado por um sorriso que vislumbra durante o trajeto na Rua do Ouvidor.O outro, um belo conquistador, o leão da sociedade carioca, era colecionador de paixões, cortejava as jovens como sendo uma ocupação necessária, o amor era um entretenimento do espírito, como passear a cavalo, frequentar o teatro, jogar uma partilha de bilhar.

    Amélia, deixa-se cortejar,sabedora de que Horácio a deseja como a um troféu,apenas para satisfazer um capricho: descobrir se ela é realmente a sua cinderela, a dona da botina por que ele se encantou.A jovem, cede aos capichos do mancebo num primeiro instante, mas por ser geniosa, subverte a esperteza do rapza e aniquila-o.Ele, acreditando que ela , por não ser a dona da botina, por que ele tanto suspirava, rompe o compromisso formalizado e decide ir atrás de outra caça, a melhor amiga de Amélia: Laura, dona de pés disformes.
     Leopoldo, que acredita que o amor é um encontro de almas, casa-se com Amélia por quem havia suspirado desde o primeiro sorriso que a moça ofereça a ele.

   História que encerra com um final satisfatório conduz o leitor nos (des)caminhos do amor. Eis aqui algumas citações presentes no livro e que terminam por deleitar seus espectadores:

  "O coração é um solo.Vale onde brotam as paixões,como os outros vales da natureza inanimada, ele tem suas estações, suas quadras de aridez, ou de seiva, de esterelidade ou abundância".


  "O casamento quando não une duas almas irmãs criadas uma para a outra, é uma espécie de grilhões que prende dois galés; o suplício de duas existências condenadas a se arrastarem mutuamente".

  "Mas não há despedida cruciante como seja a da alma pelo amor que nutriu durante muito tempo.Há aí mais do que uma separação: é quase a mutilaçõ moral".

  "Ame alguém e não saiba se é retribuído.Toda a sua existência se projeta nesse impulso da alma, que se arroja para outro ser, e anseia por nele  infundir-se.Vive-se fora de si mesmo, alheio a seu próprio eu; como o peregrino perdido lomge da pátria, o home exilado de sua pessoa erra no espaço em demanda de um abrigo".


   "O ódio é a efervescência do amor".

   "O amor fero e irado é como o champanhe que ferve e espuma".

sábado, 28 de maio de 2011

A dor de uma saudade

   






 Como superar a dor de uma saudade?Certo dia, um amigo revelou que não conseguia superar 4 anos de dedicação exclusiva à namorada: os domingos na casa das famílias, os passeios de mãos dadas, as viagens bem ou mal planejadas, enfim cumprira FIELMENTE todas as exigências de uma relação amorosa.Dois adolescentes descobrindo os primeiros passos em direção ao amor.
   Carlos, era brincalhão, se relacionava muito bem com as pessoas e tinha o encanto dos homens espirituosos e terrivelmente sedutores.Ana, por sua vez, não era tão bonita, mas representava um alicerce para ele, uma vez que fora sua primeira e única paixão.
   Ele, que ainda não aprendera a malícia inata a todos os homens, deixou-se surpreender numa bela tarde de verão e Ana encerrou a relação porque o pacto de confiança que havia entre eles havia se partido.Ela saiu batendo a porta e deixando o jovem rapaz desesperado.
   Como consolar Carlos?O que seria das tardes de domingo, dos finais de semana? Ele não sabia caminhar, pois a vida dele estava nas mãos daquela garota com quem aprendera a sonhar.Ele chorou, se desperou, adoeceu, relutou e mesmo assim a garota não voltou atrás na decisão.Estava completamente segura, e , ao contrário do jovem rapaz, ela encontrara outras formas de diversão e  reaprendera a caminhar: CRESCEU!!!
                                                                                                   Socorro Vianna

***





Nas palavras de Chico Buarque:

 


EU TE AMO



Ah, se já perdemos a noção da hora

Se juntos já jogamos tudo fora

Me conta agora como hei de partir



Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios

Rompi com o mundo, queimei meus navios

Me diz pra onde é que inda posso ir




Se nós, nas travessuras das noites eternas

Já confundimos tanto as nossas pernas

Diz com que pernas eu devo seguir



Se entornaste a nossa sorte pelo chão

Se na bagunça do teu coração

Meu sangue errou de veia e se perdeu


Como, se na desordem do armário embutido

Meu paletó enlaça o teu vestido

E o meu sapato inda pisa no teu


Como, se nos amamos feito dois pagãos

Teus seios inda estão nas minhas mãos

Me explica com que cara eu vou sair


Não, acho que estás só fazendo de conta

Te dei meus olhos pra tomares conta

Agora conta como hei de partir



(Chico Buarque)
 
***


       Toda separação é dolorosa, machuca, corrói porque o outro vai embora sem pedir licença. Aquele carinho gostoso que era trocado outrora ,desapareceu. As juras de amor não passam de lembranças de um passado que ficou distante e não adianta GRITAR, SOFRER, SUFOCAR, OU INFARTAR.Seu amor foi embora e não há culpados, a razão desse rompimento não foi a falta de dinheiro, de encanto, de beleza ou porque você não tem o carro do ano. Nossos sentimentos não têm data previamente estabelecida para começar ou terminar.
     Se você perrdeu um amor dessa natureza, chore o quanto tiver vontade, se isole do mundo, vá até o fundo do poço e descubra que lá embaixo tem uma mola que trará você de volta à superfície, só não vale desistir de si mesmo e dos projetos que um dia construiu.Vai doer por alguns dias, meses, ou anos, mas uma hora essa dor há de passar .
   Não faça o outro sofrer insistindo em algo que já terminou, poupe-o desse martírio porque afinal de contas ninguém é obrigado a gostar do outro , não existe meio-termo, ou um homem é o AMOR DA SUA VIDA, por quem seu coração vai bater mais forte cada vez que ele chegar, ou é simplesmente ALGUÉM DE QUEM VOCÊ SE LEMBRARÁ COM MUITO CARINHO e a quem deseja FELICIDADE.Não existem palavras que possam traduzir a dor de uma perda, mas existem mil formas de lidar com ela, basta que escolha o caminho certo.


Socorro Alencar




Um poema, "Perda", estava escrito numa pedra. Tinha três palavras gravadas, que o autor apagara. Não podemos ler a perda, mas podemos senti-la.
(Citação extraída do filme Memórias de uma gueixa)



terça-feira, 10 de maio de 2011

Desabafo de mulher




Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter; são como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado. Seja feliz.
Caio F Abreu

domingo, 8 de maio de 2011








Para Sempre




Por que Deus permite

que as mães vão-se embora?

Mãe não tem limite,

é tempo sem hora,

luz que não apaga

quando sopra o vento

e chuva desaba,

veludo escondido

na pele enrugada,

água pura, ar puro,

puro pensamento.



Morrer acontece

com o que é breve e passa

sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,

é eternidade.

Por que Deus se lembra

- mistério profundo -

de tirá-la um dia?

Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:

Mãe não morre nunca,

mãe ficará sempre

junto de seu filho

e ele, velho embora,

será pequenino

feito grão de milho.



Carlos Drummond de Andrade

sábado, 30 de abril de 2011

Inquietude feminina



Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.


Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.

Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.

Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.

Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.

Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.

Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.

Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.

Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.

Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.

Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.

Já tive crises de riso quando não podia.

Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.

Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.

Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.

Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.

Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.

Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.

Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".

Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.

Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.

Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.

Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.

Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.

Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!

Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!

Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.

Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.

Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:

- E daí? EU ADORO VOAR!



Clarice Lispector

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Amor aos pedaços



Diálogo final

-É tudo que tem a me dizer? - Perguntou ele.


- É! - ela respondeu.

- Você disse tão pouco.

- Disse o que tinha para dizer.

- Sempre se pode dizer mais alguma coisa.

- Que coisa?

- Sei lá. Alguma coisa.

- Você queria que eu repetisse?

- Não. Queria outra coisa.

- Que coisa é outra coisa?

- Não sei. Você devia saber.

- Por que eu deveria saber o que você não sabe?

- Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que  o outro não sabe.

- Eu só sei o que sei.

- Então não vai mesmo me dizer mais nada?

- Mais nada.

- Se você quisesse...

- Quisesse o quê?

- Dizer o que não tem pra me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você.Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.

- Mas tudo acabou entre nós.

- Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me diz mais nada

sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.
 
(Carlos Drummond de Andrade)
 
 
 
 
Os versos que te fiz




Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que a minha boca tem para te dizer!

São talhados em mármore de Paros

Cinzelados por mim para te oferecer



Têm dolência de veludos caros,

São como sedas pálidas a arder...

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que foram feitos pra te endoidecer!



Mas,meu Amor,eu não tos digo ainda.

Que a boca da mulher é sempre linda

Se dentro guarda um verso que não diz



Amo-te tanto!E nunca te beijei...

E nesse beijo,Amor,que eu não dei

Guardo os versos mais lindos que te fiz!



(Florbela Espanca)





Ternura



Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor

seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentando

Pela graça indizível

dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura

dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer

que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas

nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras

dos véus da alma...

É um sossego, uma unção,

um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta,

muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite

encontrem sem fatalidade

o olhar estático da aurora.



(Vinícius de Moraes)
   “Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.”
 
(Caio F Abreu)