segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A ESPERA

ESPERA.Tumulto de angústia suscitado pela espera do ser amado, ao sabor dos mais ínfimos atrasos(encontros, telefonemas, cartas, retornos).


       A espera é um encantamento: recebi a ordem de não me mexer.A espera de um telefonema se tece assim de pequeníssimas interdições, ao infinito, até o  inconfessável: não me permito sair do cômodo, ir ao banheiro, nem mesmo telefonar(para não ocupar o aparelho); sofro quando me telefonam(pela mesma razão); "Estarei enamorado? -Claro que sim, já que espero". O outro, este nunca espera.Às vezes, quero bancar aquele que não espera; tento me ocupar com outra coisa, chegar atrasado, mas nesse jogo, sempre perco; faça o que fizer, acabo sempre ocioso, pontual, adianado mesmo.A identidade fatal do amante nada mais é que: sou aquele que espera.
(Na trasferência, espera-se sempre-na sala do médico, do professor, do analista.Mais do que isso:se espero num guichê de banco.Podemos dizer que, em toda parte onde há espera, há transferência: dependo de uma presença que se divide e que demora a se dar-como se se tratasse de arrefecer meu desejo, de alquebrar minha necessidade.Fazer esperar: prerrogativa constante de todo poder, "passatempo milenar da humanidade".


Belo texto de Roland Barthes sobre  espera. Pode ser encontrado em Fragmentos de um discurso  amoroso. Bjos!!!

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